O problema do mal, do sofrimento e da existência de Deus
Sempre me deparo com a seguinte argumentação, quando o
assunto é a existência de Deus: Há muita maldade no mundo (na ordem Moral, das
ações humanas) e muita desordem na natureza. Logo, Deus não existe pois, se
existisse, não permitiria tanto sofrimento decorrente da ação má dos homens e
dos desastres naturais.
Concordo com o argumento até o ponto em que ele
diz que no mundo há muito sofrimento e desordem. Mas faço algumas objeções
quanto às conclusões.
Acompanhei esta mesma argumentação da parte de um professor, nas redes sociais,
à pergunta de uma aluna despreparada, que ao longo da resposta manifestou o
desejo de "fugir" do auditório.
O professor afirma que vê muito mal no mundo e pouco bem (muito caos e pouca
ordem, já que estava tratando da natureza e não de moral). Se ele é um
cientista natural, cai em um dilema, pois a ciência natural é construída a
partir do pressuposto de que o universo tem uma ordem estabelecida e que tal
ordem pode ser conhecida.
O próprio Galileu
fez referência ao mundo natural como um livro escrito com uma linguagem
especial pelo criador. Para ler o livro na natureza seria preciso dominar esta
linguagem: a matemática.
De fato, o mundo é ordenado e todo o corpo das ciências físicas, biológicas,
químicas e médicas atestam isso. Se assim não fosse, como seriam possíveis
todos os avanços no conhecimento e na descrição das leis naturais em
todos estes campos científicos?
São exatamente os padrões do universo que possibilitam que ele seja
conhecido e descrito, bem como possibilitam a identificação da desordem
(Definida como tudo aquilo que foge ao padrão)
O professor faz alusão à Voltaire (1694 d.c - 1778 d.c). Este
mesmo filósofo, no livro "o ateu e o sábio", apresenta a objeção ao
argumento do caos:
1. O mais estranho/significativo não é a
existência do caos, mas a existência da ordem:
Um universo sem guia, sem projeto e sem propósito tem tudo para ser puro caos.
No entanto, não é assim. Como já argumentai, o universo é claramente ordenado,
regido por leis fixas (dentro de certas condições) o que garante a estabilidade
das coisas, a despeito de verificarmos, também, fenômenos que consideramos
quebras dessa mesma ordem.
2. O mais estranho não é que haja maldade, mas
que haja bondade.
De
modo semelhante, no mundo da moral, que é o universo das ações humanas
(analisado sob o ponto de vista da liberdade, das intenções e das
circunstâncias), o mais incrível não é que haja violência, crueldade,
escravidão e sim que haja pacifismo, consideração pelo sofrimento alheio (até
mesmo pelo sofrimento de outras espécies) e a crença e defesa de que todos os
homens devem ser igualmente livres.
Num mundo totalmente entregue a si mesmo, onde seríamos apenas animais lutando
para comer, beber e procriar, como julgaríamos às pretensões de dominação e de
superioridade racial de um Hitler (Espaço vital e antissemitismo)
como ações condenáveis?
Em outras palavras, a questão a ser colocada seria: Qual a fundamento do que é
moralmente bom e moralmente mal?
Certamente existem muitos comportamentos que são por uns classificados como bons e por outros como maus, mas cujo impacto na vida social social é diminuto comparado com o homicídio e com o estupro, por exemplo. Não havendo fundamento moral exterior ao ser humano, mesmo o homicídio e outros crimes de igual monta ficam "absurdamente justificados" (Do ponto de vista lógico) simplesmente por uma decisão de quem detêm o poder de impor, seja um indivíduo poderoso, seja uma maioria totalitária.
Certamente existem muitos comportamentos que são por uns classificados como bons e por outros como maus, mas cujo impacto na vida social social é diminuto comparado com o homicídio e com o estupro, por exemplo. Não havendo fundamento moral exterior ao ser humano, mesmo o homicídio e outros crimes de igual monta ficam "absurdamente justificados" (Do ponto de vista lógico) simplesmente por uma decisão de quem detêm o poder de impor, seja um indivíduo poderoso, seja uma maioria totalitária.
Em conclusão: No que
diz respeito ao mal presente na natureza, bem definiu a questão Leonardo Bof ao
afirmar: "O mal consiste em ser criatura". Ora, toda criatura é
limitada e tal limitação traz em si uma dose de sofrimento, sobretudo quando a
criatura não aceita ser criatura e quer ser criador. No campo da moral,
resta-me lançar a pergunta: "Se Deus não existe, tudo é permitido?".
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