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22 teses sobre a Arte e a Beleza



PENSANDO SOBRE ARTE
22 teses sobre a Arte e a Beleza
Pedro Virgínio P. Neto

Estas 22 teses são uma síntese de tudo o que estudei e todas as reflexões que fiz ao longo do tempo de estudo. Cada uma delas abriga em si, implícitas, uma outra gama de informações que a elas dão sustentação.


1.    A distinção principal, basilar, para construirmos o conceito de arte, é entre o que é natural e o que é artificial. Tudo que não é passível de surgimento espontâneo na natureza, sem a intervenção humana, é artificial (produto da técnica - Artis).
2.   Existem Artes que priorizam a produção de coisas úteis, como a marcenaria.  Outras priorizam a produção de coisas Belas, com a pintura.  Mas toda obra de arte (produção humana) reúne utilidade e beleza.
3.    As artes cooperativas são aquelas cujo caráter artístico está nos meios utilizados (técnicas) para se alcançar o fim desejado (produto), o qual não é propriamente artístico, sendo antes algo natural, como a medicina que age para restabelecer a saúde.
4.    As artes produtivas são aquelas cujo caráter artístico está tanto nos meios utilizados pelo artista (técnicas) como no produto final do seu trabalho (a obra de arte). Como exemplo vemos a escultura e a mecânica.
5.   As coisas podem vir a existir por três modos:  por Criação Divina (a partir do nada); por geração, a partir das potencialidades e leis da própria natureza; e por produção artística, que é algo eminentemente humano.
6.   Conforme a tese anterior, um ser humano não é uma obra artística, pois um ser humano é gerado e não produzido. Logo, é necessário não pensar na beleza humana do mesmo modo que pensamos na beleza das obras de arte.
7.   Diz-se que as pessoas possuem “beleza interior”, para designar uma certa Harmonia do caráter moral da pessoa, constituída na relação entre a bondade e a verdade nela presentes. Mas esta “beleza” não é estética (visível aos olhos).  Não é, portanto, preocupação da arte, mas da ética. Uma vez que trata-se de  “beleza” decorrente da relação entre as virtudes morais da pessoa, e não decorrente das meras formas exteriores do corpo.
8.   O ser humano, por ser dotado de um corpo, é percebido como “forma estética”, mas sendo também dotado de consciência e personalidade, não deveria sua beleza jamais ser medida pelo critério com que se mede a beleza das obras de arte ou mesmo dos demais seres naturais, pois a todas elas o ser humano é superior. Afirmar o contrário pode levar a sérias e prejudiciais consequências éticas, como projetos de melhoramento da raça (eugenia), discriminação social e até descarte de seres humanos.  Na verdade já temos caminhado nessa direção.
9.    Falamos de beleza em dois sentidos: no sentido de certa relação harmônica entre as partes de uma obra de arte, marcada por simetria, proporcionalidade, quantidade, etc.  Neste caso a beleza está nos objetos e nas obras de arte, pois todos são dotados dessas características. (Confira a proporção Áurea na natureza).
10.               Também falamos de beleza como uma “experiência humana”.  Quando o olhar do observador humano apreende (capta como um todo a unidade de uma obra de arte) aquelas relações entre as qualidades de um objeto ou de uma obra de arte e elas fazem sentido e produzem uma sensação de “agrado”, de “prazer”. Nestes casos diríamos que a beleza está nos olhos do Observador.
11.               Concluímos, portanto, que a beleza é uma síntese entre a harmonia das formas presentes em todos os objetos, naturais ou artificiais, e a capacidade do observador de apreendê-la.
12.                Nem todas as pessoas conseguem aprender a unidade ou a harmonia presente em uma obra de arte, como em uma música experimental de Hermeto Pascoal ou em uma pintura cubista. Mas estas mesmas pessoas podem ser educadas ou treinadas para percebe-la.
13.               Logo, o gosto artístico não é algo absolutamente fixado. É mutável.  Também não é algo absolutamente relativo - no sentido de ser uma maneira totalmente particular e original de cada pessoa ver e sentir. Há uma forte influência do processo de educação, seja formal ou informal, através do meio cultural em que se vive.
14.               Afirmar que todo artista é igualmente brilhante e que toda obra de arte é igualmente bela, seria como dizer que todo cirurgião é igualmente habilidoso e toda cirurgia igualmente bem feita.
15.               Dizer que toda música é igualmente bela (e não que toda música possui beleza, o que é algo bem diferente) é como dizer que “As Quatro Estações”, de Vivaldi, não é mais bela (mais melódica, harmônica, rítmica, complexa em sua tessitura e timbre) que a música produzida por crianças batendo em latas no meio da rua.
16.               A completa negação de padrões ou cânones da arte e da definição do Belo não resulta na ausência de padrões, mas no seu mero rebaixamento:

“A bola Kika, Kika, Kika …
Me lembrei do Tiririca”.

17.       No momento em que essa poesia é premiada com um prêmio literário internacional ela se torna padrão no mesmo nível, ou em nível até superior, ao “Soneto de Fidelidade” de Vinicius de Moraes. Quem com lúcida consciência admitiria isto adequado? A não ser com base em outros critérios, alheios a arte poética.
18.       A beleza sempre agrada?  Nas artes do Belo, sim.  Esta é a definição mais simples, essencial e intuitiva. Ainda não encontrei exemplo que a contrarie. Ainda que o artista possa querer ressaltar o Belo contrapondo-o ao grotesco numa mesma obra de arte.
19.       Muitos artistas, em suas obras de arte, investem no desarmônico ou no grotesco, mas seu objetivo claramente não é produzir uma “experiência de beleza”, ou de “sublimação”; mas produzir um “choque” de concepções, gerar questionamento ou o afastamento de certas realidades. Esta é uma característica comum na arte contemporânea, em alguns artistas. Ou ainda produzir certas emoções como o medo, a surpresa e o suspense. São experiências que atraem o homem, mas que são distintas da experiência da beleza.
20.       O meio de apreensão de uma obra de arte e sua beleza é sempre racional, lógico e consciente? Não.  Geralmente, no primeiro instante, a apreensão da beleza é imediata, intuitiva.  O sujeito não sabe ou não tem a necessidade de explicar por que considerou a obra bela.
21.       Em muitas obras de arte contemporâneas o único meio de apreensão de sua beleza é o intuitivo, sem explicação lógica. É algo unicamente sentido, como ocorre diante de uma pintura abstrata.
22.       A beleza não se limita à relação com o olhar, o que predomina nas artes plásticas, sobretudo na pintura. Mas os demais sentidos entram nessa apreensão, especialmente o tato e a audição.







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