O PARADOXO DA LIBERDADE
Pedro Virgínio P. Neto
Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas. São Paulo, Apóstolo
Quem me conhece de perto sabe que gosto de
me expressar por meio de comparações e analogias. Ao conversar com os jovens
sobre a vida, uma das analogias que mais emprego é a do Self service.
Em um Self service, geralmente, a
variedade de pratos supera a capacidade de consumo das pessoas. Diante de tantas
delícias, nosso desejo é comer um pouco de tudo o que se oferece. Daí a
expressão "comer com os olhos". Mas logo nos damos conta de que não é
possível (ou aconselhável) formar um prato com todas as comidas presentes ali:
a quantidade acabará sendo sufocante e, dentre os petiscos, alguns simplesmente
não combinam, quando misturados. A conclusão é: Acabamos tendo que fazer uma
seleção dentre todas as opções disponíveis e permitidas.
Só comedores compulsivos não terão
consciência de tal necessidade, ou tendo tal consciência, não conseguirão guiar
seu comportamento, pelo exercício do autodomínio.
Na vida sentimos grande dificuldade em
lidar com a liberdade. Entre a "proibição" (não deves fazer isto) e a
"obrigação (tu deves fazer isto), existe um intervalo, um espaço, no qual
devemos "decidir", tendo como critério não um código rígido de
conduta, que se impõe de fora, e sim um senso de equilíbrio, lastreado pela
consciência da liberdade.
Sentir-se impelido a fazer tudo o que é
permitido (assim como comer tudo o que está disponível no Self service) não é
sintoma de liberdade, e sim de escravidão.
Há pessoas que se julgam livres porque
sempre dizem tudo o que pensam, "na lata", "na cara" de
quem quer que seja. Será isto um sinal de liberdade ou sintoma de escravidão
aos próprios arroubos de emoção?
Há os que se entregam a todos os prazeres,
num suposto exercício de liberdade. Mas nunca saberão se é liberdade de fato,
ou vício, até que tentem resistir a tais impulsos.
De igual modo, há os que se abstém de certas
ações, como fariseus que rigidamente "coam um mosquito", mas
"engolem um camelo", como o denunciou Jesus, o Cristo de Deus.
Publicamente cumpridores do dever, mas sempre prontos a transgredir no oculto,
sendo como "túmulos bem pintados e bem ornamentados, por fora. Mas por
dentro, cheios de ossos de mortos".
Ao fim de todas as nossas teorizações, o
que de concreto e de imediato nos resta é a certeza de que diante de nós,
sempre e a cada instante, temos decisões a tomar. Escolhas e seleções a fazer.
Não podemos simplesmente nos esconder por trás do "não deves fazer
isto" ou do "Tu deves fazer aquilo".
Sobre nós pesa sempre o imperativo de ter
que decidir.
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