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Razão X Fé: Princípios filosóficos em Tomás de Aquino. “Suma Contra os gentios”



ENTRE LIVROS E IDEIAS

Razão X Fé: Princípios filosóficos em Tomás de Aquino.
Baseado na introdução da “Suma Contra os gentios”

Prof. Pedro Virgínio P. Neto

Tomás de Aquino, pensador cristão que viveu de 1225 a 1274, ficou conhecido como o Doutor Angélico, e entrou para a História da Filosofia como aquele que cristianizou Aristóteles e procurou minimizar a tensão sempre existente entre Racionalismo e Fé.
Este tratado constitui-se como uma defesa da fé cristã católica em face de adversários judeus, dissidentes cristãos, muçulmanos e filósofos pagãos.
      Tomás de Aquino defende a ideia central de que existem duas modalidades de verdades acerca de deus: As que podem ser descobertas pelo uso natural da razão e as que transcendem a capacidade da inteligência humana para conhecer, sendo alcançadas apenas por meio da Revelação.
            Antes de adentrar nas questões relativas ao conhecimento de Deus, Aquino procura estabelecer algumas noções filosóficas preliminares. Nosso objetivo é, pois, tentar perceber e compreender tais princípios.
          A primeira destas noções é a definição do que é um sábio/filósofo e de qual é o objeto central da Sabedoria/Filosofia. Ele define o Sábio/filósofo como aquele que toma como objeto de reflexão “o fim ou a meta do universo”. Complementa dizendo que “o ofício do sábio é o estudo das causas mais altas.

As causas em Filosofia:
·         Eficiente: Qual a origem?
·         Material: De que é feito?
·         Formal: O que é? Qual a sua forma?
·         Final: Qual a finalidade?

Para tornar sua tese ainda mais clara, Aquino propõe o exemplo da Medicina, em face da farmacologia. Ora, a Medicina tem como meta a saúde. Cada remédio em particular contribui para aquela meta, que é a saúde. Assim, a Medicina preside a arte da farmacologia. No sentido estrito, o Médico é um sábio por ocupar-se dessa arte principal, que tem como meta a saúde completa, e não só a saúde em aspectos particulares, como o visam os remédios.
      Ora, esta parte da Filosofia que se ocupa das causas supremas, é chamada de metafísica.

De acordo com o professor Carlos Nougué, Aristóteles dividiu o corpo da “verdadeira ciência ou Filosofia, da seguinte forma:
  1. Lógica: A porta de entrada para a Filosofia. Ordenar o pensamento. Pensar correto.
  2. Física geral: “Se o mundo se resumisse ao mundo sensível, ela seria a sabedoria”
  • Cosmologia
  • Química
  • Biologia
  • Psicologia/Antropologia
3.            Ciências do Agir humano
  • Ética
  • Economia
  • Política
4.            Metafísica

Posteriormente, os escolásticos e teólogos medievais elaboraram o que seria o último degrau:
       5. A Teologia Sagrada.

Prosseguindo em suas argumentações, Tomás de Aquino afirma que o fim último de cada coisa é o que lhe foi visado pelo “primeiro autor e coisa motora”, sendo o “primeiro autor e causa motora” uma inteligência.
          Ora, o que visa à inteligência, como seu Bem supremo? O conhecimento da verdade. Logo, o fim ou causa suprema do universo é “a verdade”, de cuja busca deve o Sábio/filósofo ocupar-se. Nisto consiste, para o filósofo, o estudo da sabedoria.
Quanto mais nos dedicamos ao estudo da Sabedoria/Filosofia, mais usufruímos da verdadeira Felicidade e tanto mais nos aproximamos da semelhança com o próprio Deus. Neste ponto, podemos traçar um paralelo entre o pensamento de Aquino e o do Apóstolo João. Enquanto este afirma que “Deus é amor” e aquele que ama está em Deus, ao passo que quem não ama não conhece a Deus, Tomás de Aquino propõe que Deus é “Inteligência” e verdade. Logo que busca e medita sobre a verdade, busca a Deus e a ele se assemelha.

“Quem procura a verdade procura Deus, ainda que não o saiba.”
Edith Stein
  
          Apesar de tanta confiança no poder da razão, o Doutor angélico, como é denominado na Igreja, também lhe traça os limites.
“A inteligência humana é incapaz, pelas próprias forças, de apreender a substância ou a essência íntima de Deus. Com efeito, o nosso conhecimento intelectual, conforme o modo próprio da vida presente tem seu ponto de partida nos sentidos corporais, de tal modo que tudo o que não cai sob o domínio dos sentidos não pode ser apreendido pela inteligência humana, a não ser na medida em que os objetos sensíveis (acessíveis aos sentidos) permitem deduzir a existência de tais coisas”. (p. 133, 134)

Ora, Deus não está disponível aos nossos sentidos, logo não podemos conhecer sua substância ou essência. Contudo, os objetos sensíveis podem conduzir nossa inteligência, a um certo conhecimento de Deus.
           Os limites ao conhecimento natural estão em cada ser, conforme a sua natureza. Os próprios Anjos, afirma Tomás de Aquino, sendo de uma inteligência muito superior aos homens, não podem conhecer a Deus de modo natural (Conforme sua própria natureza). Eles são “efeitos” e nunca podem atingir o “nível do poder da causa”. (p. 135)
            Contudo, sendo Deus autor de nossa natureza, sendo nós “efeito” da “causa” que é ele, conclui-se que os princípios que operam em nossa Razão natural, também estão na Verdade divina.
            Para concluir, trago uma citação do próprio Aquino, enquanto teólogo:
“Com efeito, o que ultrapassa a razão humana, cremo-lo exclusivamente em virtude da Revelação de Deus.” (p. 146)

Bibliografia:
  1. AQUINO, Santo Tomás. Súmula contra os gentios, in Coleção os pensadores, pp.129-147. Editora Nova Cultural, LTDA: São Paulo. 2000. (Obs: Todas as citações diretas do autor são retiradas desta obra)
  2. Primeira Carta de João, Capítulo 4, versos 7 a 12, in Bília on line: <https://www.bibliaonline.com.br/acf/1jo/4>.
  3. TOBIAS, José Antonio. Iniciação à Filosofia. Editora Ave Maria.
  4. TOBIAS, José Antonio. Filosofia da educação. Editora Ave Maria.
  5. NOUGUÉ, Carlos. A Psicologia à Luz do Tomismo, <https://www.youtube.com/watch?v=N7bnGgDclA0>.

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