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O NATURAL E O ARTIFICIAL - Distinção fundamental para começar a pensar sobre Arte e outras questões




O NATURAL E O ARTIFICIAL
Distinção fundamental para começar a pensar sobre Arte
E outras questões

Prof. Pedro Virgínio P. Neto

Nesta série de aulas sobre Arte, procurarei fazer uma abordagem Filosófica, a princípio, Procurando construir passo a passo, com os estudantes, os principais conceitos relacionados ao universo da Arte.

Na abordagem filosófica o que se busca é a definição de conceitos de ordem universal, que expressem a essência dos objetos e dos fenômenos. Desse modo a busca não é por dizer o que é belo em cada época ou lugar (Como o fará a História), mas chegar aos elementos essenciais da definição de Belo e de Arte.

O EXERCÍCIO FILOSÓFICO

Começamos com um exercício em que lhes apresentei quatro situações. Pedi aos senhores que fizessem um exercício de pensamento, seguindo os seguintes passos:
1.     Observando as situações
2.     Ordenando as imagens (numa progressão)
3.     Comparando as imagens.
4.     Identificando o elemento comum a todas elas, bem como as diferenças.
5.     Reunindo tudo e escrevendo uma síntese, com suas conclusões.

Tal exercício é por demais importante, não só pelo conteúdo que está sendo estudado, mas pelo próprio exercício de raciocinar.

As contribuições que foram dadas foram muito boas, fornecendo as ideias fundamentais da interpretação que se seguiu.  As quatro situações tinham como elemento comum a origem do fogo, sendo que em cada situação observamos o seguinte:

Acontecimento natural

Causa: Raio (Natural)
Efeito: Fogo (Natural)

Trata-se de um acontecimento puramente natural, pois não há intervenção humana. Não havendo, portanto, planejamento, intenção, propósito ou técnica.

Acontecimento artificial

Causa: Cigarro (Artificial)
Efeito: Fogo (Natural)

Trata-se de um acontecimento artificial pois, apesar de haver intervenção humana  pela presença de um cigarro que foi jogado ali, não há planejamento, intenção, propósito ou técnica.

Produção

Causa: Homem (Artificial)
Efeito: Fogo (Natural)

Trata-se agora, não mais de um acontecimento, mas de uma produção, pois a intervenção humana foi marcada pelo planejamento, intenção, propósito e o uso de uma técnica.

Produção


Causa: Homem (Artificial)
Efeito: Fogo (Natural) / Fogão (artificial)

Trata-se de uma produção. O fogão sendo um efeito artificial, produzido pela ação humana, para se obter um efeito natural que é o fogo. O fogo é um efeito natural, pois o elemento fogo não necessariamente requer a presença humana para manifestar-se. O fogão, por seu turno, não surge espontaneamente na natureza sem que haja a intervenção humana. Daí ele ser definido como efeito artificial ou artístico.


A INTERPRETAÇÃO

A partir do raciocínio desenvolvido nesta atividade nós chegamos à seguinte conceituação geral:

“Arte é toda produção humana, marcada pelo planejamento, intencionalidade, propósito e uso de técnica.”

Evidentemente este conceito é simplista, pois leva em conta o aspecto do FAZER artístico, deixando de lado toda uma gama de elementos como o CONHECIMENTO e a EXPRESSÃO SUBJETIVA, aos quais nos dedicaremos à medida que avançarmos em nossos estudos.

Mas esta definição é muito importante por termos a ela chegado pelo raciocínio próprio, não admitindo apenas colecionar definições prontas sem percorrer os caminhos da reflexão que as produziram.


ARTES COOPERATIVAS E PRODUTIVAS. 
ARTES ÚTEIS E ARTES DO BELO.


A partir dos casos acima estudados, pudemos fazer outra distinção fundamental, entre as Artes cooperativas e as Artes produtivas.

Artes cooperativas são aqueles nas quais o artista coopera com a natureza. O artista não trabalha em oposição à natureza, mas procura compreendê-la para ajudá-la em seu curso. Exemplo desse tipo de arte é a medicina.

O médico produz a saúde?
Se não houvesse médicos no mundo, haveria saúde?

As respostas para as questões acima são "não" e "sim", respectivamente. O médico não produz saúde. Ele coopera com a natureza, utilizando-se de conhecimentos e técnicas, para que a saúde seja mantida ou restabelecida.

Outro exemplo desse tipo de arte é o ensino. O resultado esperado do ensino é o conhecimento.

O professor produz o conhecimento que povoa a mente do aluno?
Se não houvesse professores, haveria conhecimento no mundo?

Ora, o mestre não produz o conhecimento. Apenas aguça, atiça a natureza intelectual do discípulo, por meio de técnicas e métodos, para que o conhecimento se forme e se consolide em sua mente.  

Do mesmo modo o agricultor não produz a planta, mas coopera com a natureza para que o processo natural de germinar e frutificar sejam até mais efetivos.

Nas Artes produtivas, por sua vez, o artista produz coisas que não surgiriam espontaneamente na natureza. Dentre as obras produzidas estão aquelas marcadas pelo caráter da utilidade ou da beleza, que são dois aspectos sempre presentes nas obras de arte.

Isto nos leva a mais uma distinção, entre as Artes úteis e as Artes do Belo.  



Por Artes úteis entende-se aquelas artes pelas quais se produz coisas úteis para  o bem-estar humano. Sua finalidade principal é ser útil, embora não despreze o belo em sua constituição. Como exemplo de uma arte útil apresentamos a engenharia mecânica, cuja finalidade é projetar e construir máquinas úteis, mas sem necessariamente ter que construir máquinas feias. A principal finalidade do automóvel é servir utilmente de meio de transporte, mas o design nele impresso será também um fator de atração. Sapatos precisam ser fortes e confortáveis. Mas também podem ser belos.

Por Artes do Belo, entende-se aquelas Artes pelas quais se produz coisas belas. A finalidade das obras é serem belas, para serem apreciadas e, por meio desta contemplação, possa o espectador ter a experiência da “fruição do belo”, um deleite de natureza espiritual sentido ao captar as formas, os sentimentos e as ideias comunicados pelo artista através da obra de arte.   

VOCABULÁRIO FUNDAMENTAL

Essência: aquilo que é o mais básico, o mais central, a mais importante característica de um ser ou de algo.

Técnica: do latim “ars” ou “artis”. “Conjunto de regras ou preceitos para bem dizer ou fazer algo.” Habilidade e domínio de procedimentos.

Causa: Aquilo que faz um fenômeno surgir, imprimindo-lhe certas características.

Efeito: Aquilo que aparece como resultado da ação de uma causa. O efeito de algum modo guarda as marcas de sua causa.

Efeito natural: Fenômeno ou ser que para existir ou manifestar-se não requer a presença humana. Exemplo: O fogo.

Efeito artificial: Objeto ou fenômeno que decorre diretamente da ação humana, sem qual o tal fenômeno ou objeto não surgiriam na natureza. Exemplo: Uma máquina.  

Acontecimento: Fato ou fenômeno ocorrido, sem que para tal tenha ocorrido planejamento ou intenção.

Acontecimento natural: Quando para ele concorreram só causas naturais.

Acontecimento artificial: Quando para ele concorreu pelo menos uma causa artificial, relacionada à ação não intencional do homem.

Produção: Fato, fenômeno ou objeto surgido a partir de um planejamento e da ação intencional humana.

Criação: Em sentido Metafísico, refere-se à criação divina, trazendo todas as coisas à existência a partir do nada (Ex nihilo).

Geração: Processo através do qual um ser vem à existência através da mutação ou interação de outros seres.

Produção: É o ato humano “criativo” pelo qual faz surgir um objeto ou fenômeno a partir da utilização de materiais já existentes.

Utilidade: Em sentido específico, é a qualidade daquilo que serve para o bem estar físico do ser humano.

Beleza: É a característica daquilo que desperta emoção e prazer estético no espectador ao contemplá-lo.

Artes cooperativas: Confira o corpo do texto.

Artes Produtivas: Confira o corpo do texto

Artes úteis: Confira o corpo do texto

Artes do belo: Confira o corpo do texto


PARA PENSAR E ORGANIZAR AS IDEIAS

1.     Qual o objetivo da Filosofia da Arte?
2.     O que é Arte, em sentido amplo?
3.     Explique a diferença entre as Artes cooperativas e as Artes produtivas, dando exemplos de cada uma delas.
4.     Quais os três modos de algo vir a existir?
5.     Explique a relação entre Utilidade e beleza nas obras de arte.


BIBLIOGRAFIA BÁSICA
1. ADLER, Mortimer. Como pensar sobre as grandes ideias. ed 1ed. São paulo: É Realizações, 2015.
2. ADLER, Mortimer. Aristóteles para todos. ed 1ed. São paulo: É Realizações, 2014.
3. NETO, Henrique Nielsen. Filosofia Básica. 3 ed. São Paulo: Atual, 1986. 
4. TOBIAS, José Antonio. Iniciação à Filosofia. 10 ed. São Paulo: Ave Maria, 1998.
5. FUSARI, Maria F. de Rezende. FERRAZ, Maria Heloísa C. de T. Arte na educação escolar. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2001.
6. UTUARI, LIBÂNEO, et al. Arte por toda parte. 1 ed. São Paulo: FTD, 2013.






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