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A arte de ler - Orientações para o exercício da leitura inteligente


A arte de ler -  Orientações para o exercício da leitura inteligente

O livro na História - sua importância

O Rei Salomão afirmava a quase 2500 anos: "Não há limites para escrever livros. E o muito estudar, enfado é da carne." Ora, naqueles idos tempos, os livros não eram objetos de acesso fácil a qualquer indivíduo. Eram certamente objetos de luxo e aqueles que deles podiam desfrutar eram tidos como sábios. Ainda assim, Salomão admira-se da ilimitada capacidade de produção de livros, em sua época.

Atualmente, milhões ou talvez bilhões de livros são publicados anualmente. O escritor italiano, de renome internacional, Humberto Eco já chamou a atenção para o fato, quase óbvio, que o problema atual não é a falta de acesso à informações, mas seu excesso, requerendo do leitor, antes de tudo, a capacidade de selecionar o material que valha a apena ser lido.

De qualquer modo, o livro, ao longo de toda a História da humanidade, tem assumido um papel de fundamental importância: Desde os primeiros registros contábeis em pequenos tijolos ou placas de metal, passando pelos pergaminhos medievais, ricamente ornados com iluminuras, até a produção em série de livros, a partir do século XVII. Desde então, a maior parte da nossa cultura ocidental se apoia sobre este importe bem cultural.

Diante disto, é óbvio, portanto, que para que o indivíduo acesse os bens da alta cultura, é necessário que ele domine, minimamente, a Arte de Ler bons livros e outros materiais escritos.


Os níveis e objetivos da leitura

Como em toda atividade humana, a leitura deve contemplar um objetivo, nem sempre de natureza pragmática/prática. O objetivo que se espera alcançar com a leitura de um determinado livro nos orientará quanto à profundidade do mergulho que empreenderemos no material a ser lido. 

Quanto aos objetivos, podemos categorizá-los em três, a saber: 
1. Passa-tempo
2. Informativo
3. Ampliar a nossa capacidade de compreensão. 

Observando esta categorização, do ponto de vista em que consideramos a relação do leitor com o texto, poderemos dizer que na leitura de passa tempo não há qualquer obrigatoriedade e o leitor está totalmente familiarizado com a linguagem e com os temas tratados no material. O que não quer dizer que mesmo num material superficial, quanto a riqueza de seu conteúdo, o leitor nada possa aprender de novo. É possível que aprenda. Mas no geral se dá como descrevi.

Já com relação a leitura de informação, ainda que o leitor esteja familiarizado com a linguagem do autor, aquele poderá apreender novas informações e vir a saber de fatos recentes. Os gráficos, tabelas, quadros estatísticos e infográficos fornecem boa parte dos dados realmente importantes. Contudo, estas leitura concedem ao leitor amplitude no domínio de informações, mas nada acrescenta efetivamente à sua capacidade de compreender profundamente as questões em pauta. 

O terceiro objetivo de leitura é aquele buscado por leitores experientes, praticados por cientistas, pesquisadores e filósofos, ou por pessoas que possuem um impulso interno muito forte para o conhecimento e desejam compreender de modo profundo as questões da existência: Ler para ampliar o intelecto. Neste nível de leitura, vários procedimentos devem ser adotados para se extrair o máximo da leitura. 

Quero afirmar que a relação entre estes três tipos de leitura não é excludente. Em verdade os praticantes da Leitura para a compreensão profunda, encontram prazer e informação, além de crescimento intelectual. 

Ler em profundidade - Ampliando a nossa capacidade de compreensão  

Ao ler para ampliar o poder do intelecto, o leitor precisará investir tempo, esforço de concentração e utilizar-se de estratégias para tornar seu aprendizado mais efetivo. A ampliação da capacidade intelectual se dá pelo agregar de novos esquemas de compreensão,  a partir de leituras cuja linguagem e conteúdo estão acima do nossa capacidade de compreensão atual. Nesse sentido, deve o leitor, seguir as seguintes estratégias gerais:
  1. Captar a estrutura formal da obra -  esquema das ideias
  2. Apropriar-se de novos conceitos
  3. Identificar e estudar as definições técnicas ou de termos especiais
  4. Apropriar-se de termos e expressões desconhecidas para ampliação vocabular
  5. Tomar notas
  6. Escrever resumos
  7. Arquivar informações para posteriores consultas
Características gerais dos textos

Os textos possuem algumas características gerais que devem ser conhecidas por todos aqueles que desejam cultivar a Arte de ler em profundidade. São as seguintes:
  1. Objeto/ Sujeito: Aquele ou aquilo de que o texto fala. O leitor perceberá tal informação logo nos primeiros parágrafos do livro ou do artigo.
  2. Objetivo: Ao redigir um escrito, que é uma peça de comunicação, o autor alimenta intimamente um determinado propósito com relação aos leitores que almeja alcançar. O seu objetivo pode ser provar algo, contradizer uma informação, teoria ou desmoralizar alguém. Pode ainda estar querendo, simplesmente, informar sobre algo, dentre tantos outros objetivos possíveis. É possível, inclusive, que o autor possua mais de um objetivo em mente. Cabe ao leitor tentar descobrir que objetivo é este. 
  3. Vocabulário: Obviamente este é o requisito mais elementar para a compreensão de um texto -  Compreender o vocabulário utilizado pelo autor. Quando se trata de obras de caráter científico, filosófico ou técnico, as palavras que utilizamos no dia a dia podem assumir significados especiais, de acordo com a área de estudos especializados na qual o texto se enquadre. 
  4. Intertextualidade: O texto sempre dialoga com outros escritos e outros contextos de ideias. Assim, como dizia Paulo Freire: Estudar um texto é estudar o estudo de quem estudando o produziu. Em outras palavras, um texto é uma ponte para ir ao encontro de muitos outros textos.
  5. Interdisciplinaridade: No princípio do desenvolvimento do pensamento humano, a Filosofia abrangia todos os aspectos da realidade, em uma única busca: A sabedoria. A partir do século XVII verificou-se uma progressiva especialização do conhecimento, com o surgimento de muitas disciplinas ou ciências independentes. Mas de fato, o conhecimento produzido por cada uma das modernas ciências é um reservatório estanque. Esses conhecimento comunicam-se com os conhecimentos produzidos por outras ciências, pois a realidade permanece una. 
  6. Posto e pressuposto: o Dito e não-dito, mas insinuado ou omitido.
  7. Esquema lógico de ideias: Todo discurso abriga um desenvolvimento lógico, quer tenha-o recebido de modo intencional ou não. Descobrir esta estrutura do discurso, suas partes componentes e como cada parte se relaciona com as demais para formar um todo coerente, é um elemento determinante na compreensão textual.
                             Confrontando-se com o texto
"Ler não é um ato passivo, como receber um golpe de marreta" (Mortimer Adler)
"Interrogue as fontes" (Marc Bloc)
  1. Formule questões com o objetivo de que o texto lhe responda.
    • Qual o sujeito do texto?
    • Qual a tese central defendida pelo autor?
    • Há no texto palavras desconhecidas que lhe prejudicaram a compreensão?
    • Há no texto alguma noção ou conceito que lhe possibilitou a ampliação de sua capacidade de compreensão da realidade?
    • Notou algum diálogo do texto com outras obras, outros autores ou outras ciências? (Citação, alusão, paráfrase, analogia, etc)
  2. Detecte o objeto central do texto e o que a ele se atribui.
  3. Capte a estrutura formal do texto: Como se distribuem suas partes, seus capítulos e como elas se relacionam entre si. 
  4. Sublinhe trechos importantes.
  5. Destaque autores e teorias - Crie marcações especiais para cada tipo de informação.
  6. Estude definições.
  7. Observe relações de causa e efeito.
  8. Parafraseie passagens difíceis.
  9. Crie seu próprio glossário.
  10. Crie seu próprio índice remissivo.
  11. Sintetise - Pode ser um resumo objetivo do texto, Tão literal quanto possível ou uma análise crítica. 
    • Faça um fichamento: Resumo de tópicos ou um resumo esquemático.
    • Escreva uma resenha.
Em síntese: Ler é uma Arte, pois envolve beleza, técnica e utilidade para a elevação intelectual e moral do ser humano
























  

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