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Opinar ou calar? Que eco é esse que reverbera nas redes sociais?



Opinar ou calar? Que eco é esse que reverbera nas redes sociais?

Pedro Virgínio P. Neto

Vivemos em uma época na qual a necessidade de opinar, dizer o que se pensa sobre todos os assuntos, tornou-se dominante.

O escritor italiano Umberto Eco chegou a afirmar que “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecís”, de modo que qualquer pessoa pode vomitar suas sandices e influir sobre as grandes Massas.

Uma expressão bastante “pesada” para uma época em que as pessoas se ofendem com quase tudo o que se diz. Mas é inquestionável que ela contém verdade.

Isto, aliado à preguiça mental e à dificuldade em filtrar e criticar as informações que circulam na rede, gera como resultado um caldo indigesto de opiniões não fundamentadas nos fatos, nem na lógica, onde se confunde alhos com bugalhos. Até porque a primeira tarefa, a de identificar os fatos em meio às interpretações e opiniões sobre os mesmos, já é uma tarefa bastante complexa, mesmo para pessoas com hábitos consolidados de leitura e pesquisa.

De fato, a ampliação dos meios de publicisar nosso pensamento, aliada à exposição de um grande número de notícias alarmantes e uma constante pressão para que todas as pessoas tomem um partido, imediatamente, diante das muitas polarizações que estão estabelecidas na sociedade brasileira (e quiçá em outras, também), faz com que muitos percebam o silêncio como sendo algo indesejado, insuportável e, até mesmo, como uma forma de covardia.

Assim, no conceito popular, é melhor ser um pirotecnista da palavra, colocando fogo em tudo o que desagrada aos seus sentimentos, do que gastar tempo em observação, estudo e reflexão interior, que são como que a seiva que alimenta a árvore do pensamento.

As palavras e as ações são como os frutos produzidos por tal árvore. Sem a seiva nutritiva que alimenta a árvore, o resultado é a geração de frutos secos, sem o sabor característico dos frutos saudáveis. Estes frutos fracos tendem a apodrecer com rapidez e a adoecer quem deles se alimenta.

Neste contexto, o silêncio e o autodomínio, na dimensão da palavra, se mostram de grande relevância.

O grande desafio, ou o ideal, que se nos apresenta, é que o ser humano, ao longo de sua formação, equilibre-se cada vez mais, integrando pensamento, palavra e ação. O resultado de uma eficiente gerência de cada uma dessas dimensões é saúde interior e social. É inegável a necessidade de autodomínio por parte dos seres humanos.

A palavra e a ação caracterizam a atuação objetiva de cada indivíduo no mundo, sendo elas como que a emanação da dimensão mais interior: o pensamento, o qual abriga o centro de nossa personalidade. Por isso afirmou Jesus, o Cristo:

O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem”, pois o que sai da boca procede do coração. E “a boca fala do que o coração está cheio”.

Ainda um antigo escritor exortava a seus leitores com as seguintes palavras:

“Aquele que responde antes de ouvir, comete uma loucura. E isto lhe trará vergonha. Já aquele que ouve mais do que fala, será tomado como um sábio, ainda que seja um tolo”.

Por outro lado, o mesmo antigo escritor dizia:

“Na multidão de palavras pronunciadas, não faltam erros. Mas o que modera a sua fala, revela sabedoria”.

Na perspectiva cristã, a palavra é tida como um dos maiores poderes a atuar no universo. Nela há poder de vida e morte. A palavra dos sábios é saúde, mas a dos insensatos é como um câncer que corroe os ossos. Pela palavra projeta-se na mente um quadro de esperança ou de desespero; a expectativa da superação ou a certeza da derrota. Pelo uso da palavra pode-se “ressuscitar um morto em vida” ou fazer descer à sepultura um “vivo-morto”. A palavra sábia e sensata pode clarear a mente como uma luz clareia um salão de festa, enquanto a palavra vã pode fazer uma alma emaranhar-se no fundo de uma rede de conflitos, por tempo indefinido.

Portanto, a questão não é falar, mas falar aquilo que edifica a alma das pessoas, que clareia suas mentes. Que edifique nossa própria alma e clareie nossa própria mente.

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