ENTRE A NECESSIDADE E O TÉDIO:
O SOFRIMENTO HUMANO, SEGUNDO ARTHUR DE
SHOPENHAUER
Pedro Virgínio P. Neto
"Agora terei que ouvir novamente que minha filosofia é desesperada somente porque me expresso conforme a verdade...",
Assim expressou-se Arthur de Shopenhauer, depois de discorrer sobre vários aspectos do sofrimento humano. Este é mais um dos autores clássicos fundamentais para todo aquele que deseje refletir sobre o comportamento humano.
A tese
central defendida por Shopenhauer é a de que a vida humana se desenrola entre a
necessidade e o tédio. Os dois estados estão diretamente ligados ao nosso
sofrimento.
No estado de necessidade,
angustia-se o ser humano e através do "trabalho, aflição e esforço"
procura superá-lo. Nesta luta incessante depara-se sempre com "a obstrução da sua vontade",
verdadeira fonte do sofrimento humano.
A capacidade cognitiva superior do ser humano potencializa sua
percepção da dor e da frustração, intensificando o seu sofrimento, bem como o
faz com relação à satisfação e ao prazer. Além de sofrer pelos males presentes,
projetamos males futuros,
expectativas sombrias, que nem sempre chegam a realizar-se. Do mesmo modo,
somos habilidosos em resgatar memórias doloridas do
passado. O animal irracional, ao contrário, sofre cada pontada de dor como
se fosse a primeira vez.
Ao mesmo tempo, paradoxalmente, só diante da frustração de nossa
vontade, nossa percepção é plenamente despertada para os bens que possuímos.
Sem a experiência do sofrimento, diz o filósofo, caímos no estado de tédio.
No estado de tédio, a
angústia não é menor. Nesse estado o Ser humano mergulha numa espécie de
letargia. Apesar da condição satisfatória que o sujeito desfruta, no sentido de
que ele não sofre nenhuma carência material, nem uma dor física, a falta de
sentido existencial é uma sensação recorrente. A fim de ilustrar essas
conclusões, Shopenhauer nos convida a imaginar:
"Que se transfira o homem a um país utópico, em que tudo crescesse sem ser plantado, as pombas revoassem já assadas, e cada um encontrasse logo e sem dificuldade sua bem-amada. Alí, em parte os homens morreriam de tédio ou se enforcariam (em galhos de árvores), (e) em parte promoveriam guerras, massacres e assassinatos, para assim se proporcionar mais sofrimento do que o posto pela natureza. Portanto, para uma tal espécie, como a humana, nenhum outro palco se presta, nenhuma outra existência."
Shopenhauer define sua filosofia como sendo "segundo a
verdade", nua e crua. Os seus críticos, como uma visão muito pessimista da
vida. De qualquer modo, o que não podemos deixar de notar é que o tema tratado
e o modo como ele o tratou, toca profundamente as questões capitais da nossa
vida e existência.
Suas reflexões me levam a perguntar por que na época mais rica de
toda a História humana, o vazio existencial, a depressão e o suicídio estão no topo
das estatísticas mundiais, especialmente em países altamente desenvolvidos.
Talvez a variante central em toda a problemática da vida humana
seja não "o sofrimento" ou
"o prazer", mas "o sentido", como bem preconizou o
psicólogo sobrevivente dos campos de concentração, Victor Frankl. Dizia ele que se uma pessoa humana possui um
"sentido", ela é capaz de suportar qualquer sofrimento.
“Quem
tem um porquê, enfrenta qualquer como”
Victor
Frankl
"No mundo tereis aflições, mas tem bom ânimo, pois
Eu venci o mundo"
Jesus, O Cristo
Referências bibliográficas
SHOPENHAUER: “Contribuições para a doutrina do
sofrimento”, in Shopenhauer: Os pensadores. Editora Abril.
FRANKL, Victor: “Em busca de sentido - um psicólogo no campo de concentração”.
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