CARTAS
DE UM DIABO AO SEU APRENDIZ - RESENHA DE LIVRO
Pedro Virgínio P. Neto
"Cartas de um diabo ao seu
aprendiz" é uma das mais famosas obras de C. S. Lewis, ao lado das ainda
mais famosas "Crônicas de Nárnia". Em cada carta, em cada
período, encontramos verdadeiras pérolas de pensamento de Lewis. É impossível,
ao leitor atento e esforçado, terminar a leitura deste e de outros livros do
autor e não ter crescido intelectual e moralmente.
Como bem se coloca na abertura
de cada um de seus livros, publicado pela editora Thomas Nelson:
"Clive Staples Lewis (1898 - 1963) foi um dos gigantes intelectuais do
século XX".
Apesar de o próprio autor ter
expressado que foi uma das obras mais fáceis de escrever e, ao mesmo tempo, uma
das menos prazerosas, ela é genial (p.177). Particularmente não pude conter o
sorriso nascido da euforia que senti ao ler certos trechos do livro, nos quais
a criatividade imaginativa de Lewis atinge as alturas.
A unidade do livro se expressa
numa progressiva conversa entre um demônio chamado Maldanado com seu sobrinho
Vermelindo. Vermelindo, sendo um jovem demônio que está na ativa do
serviço de tentação, periodicamente envia relatórios de suas ações junto
ao seu "paciente" (um ser humano a quem ele está incumbido de desviar
dos caminhos do "inimigo" - que é Deus, na perspectiva dos
demônios). Maldanado, seu tio e também seu secretário, envia-lhe cartas com
orientações de como ele pode alcançar maior sucesso em sua missão de
tentador.
O leitor deve estar muito
atento ao fato de que tudo está escrito em primeira pessoa na perspectiva de um
demônio. Assim, o "inimigo", a quem é constantemente feita alusão, é
o próprio Deus.
Lewis nos adverte a que não
esqueçamos que o diabo é um mentiroso e que devemos duvidar de todas as suas
afirmações:
"O que é branco para Maldanado é preto para nós, e qualquer coisa a que ele dê boas-vindas nós devemos temer." (p. 174)
"Os leitores são aconselhados a lembrar que o diabo é um mentiroso. Nem tudo o que Maldanado diz deve ser tomado como verdadeiro, nem mesmo a partir de seu próprio ponto de vista.” (p. 15)
Com isto Lewis quer também
enfatizar o caráter ficcional da obra.
Contudo, apesar do seu caráter
ficcional, é evidente que ela encerra um conjunto de pontos de vista e de
críticas do autor em face da vida cristã e da moderna sociedade em que ele
estava inserido. É possível, tomando a chave de interpretação proposta
pelo próprio autor nas citações acima, extrair da obra esses pontos de vista e
essas críticas.
Convém lembrar que é um livro
escrito e publicado no período da segunda guerra mundial (1942). Muito do que Lewis
previu como desdobramentos negativos de certas posturas religiosas,
filosóficas, políticas e educacionais, adotadas naqueles idos, sobretudo no
contexto inglês, hoje o observador atento poderá testemunhar.
Mas as críticas de Lewis às
tendências que ele observava não eram negativas em sentido absoluto. Isto pode
ser percebido no comedimento de Maldadanado, o demônio secretário, ao instruir
seu sobrinho Vermelindo, mais ou menos nos seguintes termos:
Infundir o sentimento de covardia é bom
como um meio de tentação, mas não deixe que seu paciente adquira uma consciência
muito profunda desse estado de covardia, pois isso poderia levá-lo a
desenvolver uma atitude humilde. O que seria altamente indesejável para o
serviço de tentação. Contudo, fazê-lo perceber-se como profundamente humilde
pode levá-lo a um estado de orgulho espiritual.
O grande pecador, com todo o
seu radicalismo, pode tornar-se um santo radical se, porventura, despertar nele,
derrepente, um profundo senso de pecado e de arrependimento. (p.188, 198)
A tentação deve ser na medida
certa. Um pouco mais ou um pouco menos poderia fazer com que o “o
paciente" seja perdido para o "inimigo" (ou seja, salvo para
Deus).
São ao todo 31 cartas que
cobrem todo o processo de tentação. Ao final o "paciente" terá seu
destino traçado: Será ganho pelo tentador ou perdido para o "inimigo". Evidentemente,
não devem esperar que eu revele o desfecho. Quem quiser saber como tudo
termina, deverá ler a obra.
Na segunda parte da edição
lançada pela editora Thomas Nelson, Maldanado, por ocasião da formatura de
novos tentadores na academia infernal, saúda o Diretor Remeleca, discursa para
os formandos orientantodo-os quanto às atuais tendências da profissão de
tentador e propõe um brinde.
Leia também: Cartas de um diabo ao seu
aprendiz: Dos modos de garantir o sucesso da tentação.
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