Pular para o conteúdo principal

A AUTOFORMAÇÃO DO PROFESSOR



A AUTOFORMAÇÃO DO PROFESSOR
Pedro Virgínio P. Neto

Pesquisas recentes apontam que, na perspectiva de professores, um dos fatores de maior valorização dos profissionais  da educação, é a oferta de formação continuada.
Tal expressão, parece-me, vem desgastada pelo uso freqüente, tendo assumido a característica de um lugar comum.
Geralmente o que é denominado e promovido como formação contínua de professores são palestras com temas previamente pensados e de conteúdo mais político que pedagógico ou didático. Mesmo quando a proposta não é esta, os participantes tendem a levar a discussão para este lado. 
Outra noção muito ligada ao tema é a de que é competência precípua do Estado ofertar formação aos professores. Na ausência ou na pouca freqüência dessa oferta, o que se verifica são falas ressentidas, onde os professores são apresentados como "menores abandonados", desamparados, os quais não se entregam ao processo de formação por que não se lhes oferecem formações prontas. Falo dentro do contexto de Formação continuada, exclusivamente.
Apesar do meu tom crítico, não estou afirmando que o Estado está dispensado de realizar investimentos que criem oportunidades de aperfeiçoamento dos professores, ou que as palestras e oficinas oferecidas pelas secretarias de educação não são importantes. O que objetivo defender é o ponto de vista segundo o qual cada professor deve encarar a sua formação profissional como sendo de sua responsabilidade pessoal. Até porque o resultado deste processo é a incorporação de competências à pessoa do próprio professor e não a elaboração pura e simples de instrumentos de ensino.
A Formação continuada, na perspectiva que enfatizo, é um processo, de fato, contínuo da pessoa, do intelectual e do pedagogo, no mesmo sujeito. Um processo que se dá no dia-a-dia do professor, nos momentos mesmos em que ele desenvolve o seu ofício.
Assim, tendo em vista tudo o que anteriormente disse, quero apresentar alguns meios concretos pelos quais se dá o processo efetivo da formação do professor, em atividade profissional.

A leitura

Não resta dúvida de que a leitura é um dos meios mais eficazes para o desenvolvimento intelectual. Disse desenvolvimento intelectual e não apenas obtenção de informação, ainda que para tal também seja um meio seguro.
Evoco aqui a distinção feita por MortimerAdler entre os atos de leitura para obter informação e os atos de leitura para ampliar o intelecto. Estes últimos devem seguir uma linha analítica, interagindo com o texto.
Muitos dizem que os livros estão caros e os baixos salários não admitem ao professor investir a mínima quantia que seja na aquisição de livros ou cursos para a sua formação. Tal objeção é facilmente contornada em face de que muitas escolas possuem bibliotecas com um grande acervo de títulos relevantes. Existem, em muitas cidades, livrarias voltadas para a venda de livros usados em razoável estado de conservação, por preços bastante acessíveis. Os famosos Cebos.
Ainda há uma vasta gama de títulos, das mais variadas áreas de conhecimento, que estão disponíveis em meios eletrônicos, gratuitamente. 
Enfim, muito mais se poderia dizer sobre o assunto, mas fico por aqui quanto a este tópico.

O diálogo

Uma segunda estratégia consiste no diálogo entre os pares. Professor dialogando com professor acerca do ofício que desenvolvem. 
Por diálogo não me refiro a uma conversa ocasional, onde cada professor verbaliza as agruras do seu dia e queixa-se do desinteresse dos seus alunos. Tal momento tem sua importância e seu lugar, como meio catártico, que ninguém é de ferro.
Mas, por diálogo, refiro-me a uma comunicação mais dialética, que objetiva atingir um acordo entre as mentes e a formulação de uma síntese que represente para os dialogadores a aprendizagem de algo novo, a formulação de novas perspectivas teóricas sobre a realidade. 
Este momento de diálogo, com muita freqüência, é deflagrado por aquele instante de catarse, ao qual me referi logo acima (de queixas e manifestação de angústias). Contudo,  supera-o, imprimindo nos dialogadores novas significações e perspectivas. 
Devo acrescentar, ainda, que tal diálogo está lastreado por conhecimentos teóricos e experiências práticas, respectivamente, assimilados e vivenciadas previamente, em uma dinâmica continuamente retroalimentada. 

A escrita autoral

Quero, por fim, frisar o papel da escrita autoral como forma de registro das experiências e reflexões do professor. 
A adoção de tal prática de registro permite ao professor acompanhar de modo mais objetivo o seu próprio itinerário formativo, tendo em conta a prática de ensino, suas reflexões pedagógicas e o aperfeiçoamento de suas relações interpessoais. 
Ao final de um período de registros, o retorno que o professor faz, ao debruçar-se sobre este material, produz um efeito profundamente favorável ao autoconhecimento da pessoa e do profissional.

Em conclusão

Sem ter tido a intenção, inicialmente, acabei imprimindo neste escrito, o modelo proposto por Francis Bacon para a formação intelectual, expresso em um pensamento que eclodiu há pouco em minha memória:

"A leitura nos dá amplidão.
O falar nos dá segurança.
A escrita nos dá precisão."

Leitura, diálogo e escrita: Eis o que pode constituir-se como um modelo eficiente para a formação contínua de professores.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BEM VINDOS A "ENTRE LIVROS E IDEIAS"!

BEM VINDOS A  "ENTRE LIVROS E IDEIAS"! Um blog sobre ideias, livros, reflexões e atividades educacionais.  Este Blog principal - Entre livros e ideias , no qual me dedico a escrever textos a partir de leituras de livros e do mundo, está associado a outros nos quais me dedico a escrever reflexões diversas, a saber:  1.  Meditando na Palavra : Reflexões biblicas e teológicas. 2.  Prof. Pedro Virgínio P. Neto (Portifólio) : D ivulgação de atividades pedagógicas, planos, documentos e recursos utilizados em atividades de sala de aula.  3.  Psico.Sophia: Roteiros de aprendizagem : Reflexões pedagógicas e psicopedagógicas sobre ensino, aprendizagem e desenvolvimento humano.  4. Empreendedorismo GVT :  Este último, nasceu da necessidade de maior interação com meus alunos, em circunstâncias de pouco tempo para encontros presenciais sendo, portanto, uma ferramenta pedagógica.  5. Webartigos : Plataforma externa, na qual publico alguns artigos pequenos. 6. Professor Pedro Virgínio N

De vita Beata (Da vida Feliz)

  De vita Beata (Da vida Feliz) Prof. Pedro Virgínio P. Neto A.      O Autor e seu contexto 1.       Lúcio Aneu Sêneca (5 a.c – 65 d.c): Contemporâneo de Jesus de Nazaré. 2.       Supostamente amigo do Apóstolo   Paulo: 3.       Um membro da elite Romana. Habitante dos palácios. 4.       Um homem de leis e professor: Preceptor do Imperador Nero 5.       Um filósofo estóico (Versus Epicurismo): Virtude X Prazer 6.       Sentença de morte decretada por seu aluno, Nero. Ingerir veneno (Semelhança de Sócrates). Acusado de conspiração. B.      Questões discutidas 1.       Todos desejam a Felicidade. Mas todos sabem o que torna uma vida feliz? 2.       Quais os erros a serem evitados na busca de estabelecer uma vida feliz? 3.       Em que consiste uma vida feliz? C.      Citações 1.       “Viver de modo feliz, ó meu amado Gálio, todos desejam, mas, quando se trata de ver, com nitidez, o que torna feliz a vida, então os olhos ficam ofuscadas.” (p.31) 2.       “

TRATADO SOBRE A TOLERÂNCIA - VOLTAIRE (RESENHA)

Tratado sobre a tolerância, de Voltaire (Resenha) Pedro Virgínio P. Neto A Essência deste tratado é a defesa da tolerância como o maior bem da humanidade, sobretudo a tolerância religiosa, que foi sempre praticada em diferentes culturas, ainda que em meio a expressões também de absurda intolerância. Voltaire procura mostrar que mesmo no Império romano, entre os antigos gregos e entre os antigos judeus, a perseguição e a intolerância por causa de pura e simples diferença de opinião religiosa não eram fenômeno constante. Em sua opinião, a qual procura fundamentar a partir de antigas fontes, citando antigos autores e histórias de Martírios, estes tinham como causa não só as diferenças de opinião ou de crença, mas também questões de ordem pessoal e políticas que, por meio de tramas, acabavam sendo tomadas como questões de Estado, desencadeando a ira dos imperadores. O filósofo parte da denúncia de uma condenação injusta, executada por oito juízes de Toulouse, em 1762, contr