A POSSIBILIDADE, A NECESSIDADE, O PODER E O DEVER DE MUDAR
Pedro Virgínio
P. Neto
É muito comum, diante
de situações que exigem de nós alguma mudança de postura, de conduta ou de
pensamento, dizermos “Esse é meu jeito”, “é assim que sou”. Tal afirmação quer
dizer da impossibilidade de mudarmos. . Alguns têm definido, ironicamente, essa
tomada de posição como a “síndrome de Gabriela”, numa alusão à famosa canção
popular que todos conhecemos.
Desde a aurora da
filosofia o tema da mudança e da permanência vem sendo debatido, tendo como
marco histórico a famosa disputa entre Parmênides e Heráclito. Para o primeiro,
tudo é o que é, e pronto! Já para Heráclito a mudança é a regra e a percepção
de que as coisas (e as pessoas) permanecem sendo as mesmas é mera ilusão. Ao ponto
de ele ter feito a famosa afirmação de que não se pode tomar banho duas vezes
no mesmo rio, pois na segunda vez as águas do rio já não são as mesmas e o
estado pessoal do banhista já não é o mesmo.
Aqueles com que
converso mais demoradamente sabem que gosto muito de citar provérbios e
aforismos, pois são formas simples de transmitir ensinamentos profundos e
relevantes. Assim em conversas com minhas filhas e com outros jovens, quando se
mostram resistentes diante de mudanças importantes, costumo dizer-lhes: “Você
não é uma pedra. Portanto, você pode mudar”. Muito vezes digo isto a mim mesmo.
Percebo, depois, que
minha colocação é injusta para com a natureza das pedras. Elas também mudam. Se
não por iniciativa própria, mudam pela ação interventiva dos ventos, da chuva e
dos animais.
Jogadas de um lado para
o outro e umas contra as outras, pedras pontiagudas e irregulares assumem, no decorrer
do tempo, formas polidas e arredondadas. A mudança é, portanto, uma
possibilidade e uma necessidade dos seres na natureza. No homem, além de ser
possível e necessária (que quer dizer inevitável), a mudança adquire duas
outras dimensões: A do poder e a do dever.
O poder faz referência
a uma das instâncias mais determinantes do Ser humano: A vontade, a capacidade
de decidir. A possibilidade de orientar de modo “livre” suas ações. O dever
decorre exatamente do fato de sermos dotados de vontade livre e poder de
escolha. Logo, isto nos torna responsáveis.
O Ser humano que está
sob o jugo de “escravidão” ao reconhecer tal estado e vislumbrar a possibilidade de
libertar-se, sente crescer dentro de si não só o desejo de ser livre. Dentro
dele, como um imperativo, uma voz interior luta para convencê-lo do dever de
buscar a liberdade. À medida em que essa voz insiste, seu poder de decisão (a vontade) se fortalece. Dentro dessa dinâmica a mudança é operada.
Portanto, maus caros, a
mudança sempre se dará, pois é necessária. Sempre mudaremos. Importa, pois, que
por meio da ação consciente orientemos nossa mudança para aquilo é mais digno
do Ser racional e espiritual, que é o humano. Segundo a perspectiva cristã,
somos feitos “Imagem e semelhança de Deus” e chamados a participar da natureza
divina (. Daí as palavras vivas do Mestre:
“Em verdade, em verdade vos asseguro que se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, permanecerá ele só; mas se morrer produzirá muito fruto.” (Jo 12:24)
“Em verdade, em verdade vos asseguro que se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, permanecerá ele só; mas se morrer produzirá muito fruto.” (Jo 12:24)
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