ESTUDO
DE CASO: REFLEXÃO E INTERVENÇÃO
AS MANIFESTAÇÕES DA VIOLÊNCIA NO AMBIENTE
ESCOLAR
Pedro Virgínio
P. Neto
Diante do caso da
agressão sofrida pela professora Mara, da Escola Esmeralda de Ensino
Fundamental e Médio (caso hipotético), somos levados a considerar um problema
recorrente nos ambientes escolares e cada vez mais midiatizados: O fenômeno da
violência. Esta se expressa de modo sutil, simbólico, e muitas vezes em forma
de violência declarada e até física.
Diante de um caso como
este, levantamos como estratégia fundamental propiciar aos próprios
educadores momentos para estudar e refletir sobre o problema da violência, sob
diversas perspectivas, desde a sua dimensão mais ampla até as manifestações típicas
no ambiente escolar.
De acordo com as
reflexões de SOARES e MACHADO (2013), a violência se origina de diferentes
fontes, sobretudo de condições biopsíquicas que são inerentes ao próprio ser
humano que, por sua vez, são atualizadas e reforçadas por fatores de natureza
sociocultural.
As profundas
desigualdades socioeconômicas, a fragmentação das relações familiares, tantas
vezes a alienação parental, o conseqüente abandono afetivo e as perturbações
emocionais e psíquicas decorrentes estão na base de comportamentos violentos manifestados
por estudantes dentro dos ambientes escolares. Aqui, contemplamos a
possibilidade de inserir no currículo uma disciplina ou projetos que visem
propiciar aos estudantes o desenvolvimento de competências socioemocionais, as
quais são fundamentais para lidar de modo equilibrado com os dilemas da vida,
como bem ressaltou o eminente psicólogo Daniel Goleman (1995).
A violência manifesta-se
no ambiente escolar como reflexo da violência que perpassa a sociedade como um
todo. Contudo, a escola também pode ser geradora, reprodutora e reforçadora de
comportamentos violentos. Conforme constatado pela pesquisadora Milena Ataíde
Maciel (2015) em sua pesquisa de mestrado, uma parte considerável dos
professores coloca-se como um observador do fenômeno da violência escolar e não
se vê como estando inserido no mesmo. É o que se depreende da fala dos
profissionais analisadas pela pesquisadora.
Na verdade não se quer
imputar má fé a professores e gestores. Contudo é preciso reconhecer que a
cultura escolar também é um fator determinante das formas de violência que são
manifestadas. Observa-se na descrição do caso que o mesmo foi precedido por
acontecimento semelhante, o que demonstra o traço de uma possível mentalidade e
cultura presentes na comunidade escolar.
Tal cultura se
estabelece a partir de todo um conjunto de elementos constituintes do ambiente
físico escolar (Estrutura, organização, limpeza, iluminação e estética, dentre
outros), passando pelas mentalidades predominantes no corpo docente, discente e
comunitário (Crenças, valores, pressupostos). Faz-se necessário, pois, (3) “mapear”
estes elementos e equacionar a relação que possa haver entre eles e a
manifestação da violência em suas diversas formas. De posse desses
conhecimentos é preciso traçar um plano de ação com o intuito de criar uma
cultura escolar que favoreça relações interpessoais positivas e engajadas no
alcance efetivo da aprendizagem.
Voltando o olhar mais
especificamente para o espaço da sala de aula, devemos considerar a importância
da gestão do processo de ensino-aprendizagem, entendido como todo o processo de
planejamento e execução das ações metodológicas e didáticas como elemento de
organização, coesão e indução do engajamento produtivo e eficaz, no que diz
respeito à aprendizagem.
Acompanhar e dar
suporte aos docentes nesta dimensão, avaliando coletivamente, dando feedback e
propiciando momentos de estudo e reflexão sobre todo o processo pedagógico, constitui-se
numa estratégia central no combate e prevenção das manifestações da violência
escolar, sobretudo daquelas que emergem como “indisciplina” ou como “incivilidades”.
É preciso, ainda,
contemplar a comunidade de pais e responsáveis. A escola tem a possibilidade de
criar momentos de extensão com o intuito de promover a contínua educação desse
grupo da comunidade escolar. É evidente que muitos fatores geradores de
comportamentos agressivos estão no interior das famílias. Dificilmente um jovem
manifestará um comportamento emocionalmente saudável se convive com pais e orientadores
cuja inteligência emocional se mostra abaixo dos níveis mínimos desejáveis. Ao
invés de partir do pressuposto, puro e simples, de que se trata de pais “irresponsáveis”,
a escola pode trabalhar sobre a hipótese provável de que na verdade são pessoas
também carentes de orientação. Considere-se que a educação de uma pessoa não se
limita aos seus estudos escolares obrigatórios. É processo contínuo e
vitalício. Uma cultura de Educação não se preocupa em educar jovens apenas. Os
adultos também precisam ser inseridos nesse movimento contínuo, como salientou,
em sua época o filósofo norte americano Mortimer Adler.
Em suma, um caso de
violência aberta, como o que nos foi apresentado, não representa de forma
alguma a totalidade do problema, sendo apenas o sinal de um conjunto de “patologias”.
O enfrentamento da violência, da indisciplina, das incivilidades, requer um
olhar amplo e ações simultâneas em diversas frentes.
Referências:
SOARES, M. B.; MACHADO, L. B. Violência
contra o professor: sentidos compartilhados e práticas docentes frente ao
fenômeno. 36ª Reunião Nacional da ANPEd, 2013, Goiânia-GO. Disponível em:
http://www.anped.org.br/sites/default/files/gt20_3139_texto.pdf
Maciel, Milena Ataíde. Representações
sociais de violência na escola: um diálogo com alunos e professores da Paraíba Recife,
2015. (Leitura das páginas 52 a 64) Disponível em:
https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/16059/1/DISSERTA%c3%87%c3%83O%20MILENA%20MACIEL%20-%20final.pdf
Goleman, D. Inteligência
Emocional. A teoria revolucionária que define o que é ser
inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, Tradução revista em 2001 do
original 1995.
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