A ÚNICA REVOLUÇÃO POSSÍVEL
Pedro Virgínio Pereira Neto
A única
revolução possível é aquela que acontece dentro de você. Eis um pensamento
bastante intimista para alguém cuja iniciativa de ação, social e política,
resultou na libertação de um grande povo: Mahatma Gandhi.
Mahatma,
em sua origem etimológica, significa, literalmente, “alma grande”. Sua ação era
política, mas a chama de sua motivação era interior:
“Uma coisa lançou profundas raízes em mim: a convicção de que a moral é o fundamento das coisas, e a verdade, a substância de qualquer moral. A verdade tornou-se meu único objetivo. Ganhou importância a cada dia. E também a minha definição dela se foi constantemente ampliando. Minha devoção à verdade empurrou-me para a política; e posso dizer. Sem a mínima hesitação, e também com toda a humildade que, não entendem nada de religião aqueles que afirmam que ela nada tem a ver com a política. ”
Nos
versos de um poema que exalta as grandes viagens de Portugal no século XVI, com
o intuito de descobrir novas terras, mercados e engrandecer a nação portuguesa,
o poeta Fernando Pessoa nos diz:
“Valeu a pena? Tudo vale a pena, Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador, Tem que passar além da dor (...)”.
Antes
de conquistar as terras de além mar, é preciso conquistar o próprio interior.
Integrar pensamento, vontade e ação, dominar o medo, para desenvolver a
disciplina e o autodomínio. Alinhar objetivos e valores. Calcular e aceitar
pagar o preço da viagem. Uma viagem que pode lhe custar a família, a saúde ou
mesmo a vida, valerá a pena se a motivação para tal for brotada do mais
interior do coração, se estiver alinhada com um profundo sentido existencial.
Viktor
Frankl, o psicólogo que esteve num campo de concentração nazista, com base em
sua experiência, afirmou que o homem pode suportar tudo, menos a falta de
sentido. E o sentido é elaborado sempre interiormente.
Realizar
revoluções exteriores enquanto seu interior está devastado pela falta de sentido,
ou pela incongruência entre pensamento, vontade e ação, não apresenta qualquer
vantagem, "pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua
alma”, como nos questiona Jesus Cristo, o mestre por excelência (Mc 8:36)?
Assim,
a verdadeira ação revolucionária é a que se dá dentro de nós mesmos. Somente à
medida em que experimentamos a mudança interior se manifestar em nossa prática
pessoal, é que nossos ideais mais amplos vão tornando-se dignos de almejarem a um
lugar na prática universal da humanidade.
Assim,
uma Revolução primeiro nasce no coração existencial do revolucionário; e um
desbravamento, primeiro se dá no coração existencial do desbravador. Quer mudar
o mundo? Começa a mudança por você mesmo. Seja a mudança que você quer ver no mundo.
Se é
verdade, como nos propõe Edward Lorenz, proponente
do “efeito borboleta”, no contexto da teoria do caos, que o bater de asas de
uma borboleta num extremo do planeta pode produzir, de modo remoto, um furacão no
outro extremo, podemos concluir que quando mudamos a nós mesmos, produzimos
mudança em nosso meio, inevitavelmente.
Assim, podemos tornar o mundo um lugar mais limpo, começando por
varrer nosso próprio quintal.
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