PROBLEMAS EXISTENCIAIS
O que são, de onde brotam e como encará-los
Problemas existenciais são todos os desafios e obstáculos que se
apresentam diante de nós, ao longo da vida, e demandam soluções. Situações que
nos colocam em estado de conflito e de instabilidade, diante das quais
precisamos tomar decisões complexas ou firmes. O confronto com estes problemas
faz brotar dentro de nós as chamadas "crises existenciais" ou
"angústias da existência". Estas crises nascem de muitas fontes
distintas. Mas todas são inerentes à própria existência
humana.
Em primeiro lugar, nascem das nossas próprias limitações
naturais. Da nossa fragilidade física, por exemplo. Todos adoecemos,
envelhecemos e morremos. Evidentemente, diante do anseio constante de
bem-estar, de vigor e vida longa que alimentamos, essas limitações despertam em
nós questionamentos, perguntas filosóficas, místicas e religiosas, numa
tentativa de encontrar um sentido para tais fenômenos.
Em segundo lugar, somos seres limitados ao tempo e ao espaço. Não
raro nos vemos em angústia por termos que escolher entre duas experiências
igualmente importantes para nós, não podendo estar em dois lugares ao mesmo
tempo. Imagine o filho de pais separados e distantes, que para usufruir da
presença de um deve suportar a ausência do outro.
Outras vezes, nossa angústia nasce da expectativa de uma longa
espera, em relação ao alcance de um objetivo muito desejado. Está, então, em
destaque a nossa limitação temporal.
Frutos levam tempo para brotar; construções demandam tempo para serem erguidas. Jamais será possível percorrer o décimo quilômetro antes de termos percorrido o primeiro, o segundo, o terceiro...
Ainda uma terceira fonte, de problemas existenciais, são as
relações interpessoais e as circunstâncias que compõem o mundo objetivo em que
vivemos. As outras pessoas, tal como nós, tem consciência de si, dos próprios
desejos e interesses. Possuem poder próprio de decisão. Não raro, nossa individualidade
entra em choque com as individualidades das pessoas que nos rodeiam. Muito
comumente a consecução de nossos objetivos e a satisfação de nossos desejos,
depende da colaboração, apoio ou concessão de outras pessoas. Ademais, o mundo
social em que vivemos é uma construção coletiva complexa, sendo fruto da
interação de milhares de indivíduos numa intrincada cadeia de relações,
buscando, cada um, a satisfação de interesses antagônicos em relação aos interesses dos outros; lutando por oportunidades limitadas.
É em meio a esta intrincada teia que temos que desenvolver a finíssima arte de viver.
Mas como podemos nos posicionar diante desses problemas da
existência? Assumindo um posicionamento fatalista, considerando-nos como seres
absolutamente determinados? Como meras vítimas, passivas? De modo algum.
Devemos pela manhã nos olhar no espelho e gritar: "Você pode tudo o que quiser e para você não haverá problemas, nem derrotas jamais"? Tal pensamento seria também tolice e ilusão.
Devemos pela manhã nos olhar no espelho e gritar: "Você pode tudo o que quiser e para você não haverá problemas, nem derrotas jamais"? Tal pensamento seria também tolice e ilusão.
Em tudo se faz necessária uma pitada de realidade. E esta pitada
de realidade se constitui do vislumbre de possibilidades e de limitações. De
liberdade e de condicionamentos. Caminhar entre o ideal e o real: O atualmente
possível.
O olhar realista nos diz que o melhor modo de existir é
desenvolver certas qualidades, em nossa personalidade, que nos fortaleçam
diante dos desafios da existência.
Reconheçamos as nossas fragilidades corporais e cuidemos, com
zelo, da nossa vida, respeitando o nosso corpo. Ele é nosso veículo neste
mundo.
Diante da finitude da vida, aceitar nossa condição breve,
percebendo que somos parte de um todo que assim opera. Cultivar um sentimento
de fé transcendente, que é o fundamento de qualquer esperança. A fé em Deus não
surge na humanidade por acaso. É uma das fontes mais poderosas de motivação e
coragem.
Devemos exercitar a paciência, a qual requer certa humildade.
Certos processos da vida requerem um tempo maior para se cumprir. Certas
decisões importantes, que podem causar impacto em toda a nossa existência,
precisam de um tempo de maturação. Somos seres temporais. Nos diz o escritor
bíblico Tiago:
"Portanto, irmãos, sejam pacientes até a vinda do Senhor. Vejam como o agricultor aguarda que a terra produza a preciosa colheita e como espera com paciência até virem as chuvas do outono e da primavera." (Tg 5:7)
Quanto às
pessoas, saibamos perdoá-las, pois como nós, possuem fraquezas; aprendamos a
esperar pouco delas, assim sempre estarão em acordo com as nossas demandas;
utilizemos a palavra com cautela, como quem usa fogo e gelo: fogo para aquecer
a frieza dos corações e gelo ara aplacar o ardor da sua fúria. Entendamos a
verdade, talvez dura e não tão poética, de que nenhum ser humano é merecedor de
cem por cento de nossa confiança e dependência. Isso parece contradizer todas
as boas intenções, mas é apenas aquela pitada de realidade que não pode
faltar.
Por fim,
com relação às circunstâncias, as atitudes mais sábias a serem tomadas são
aquelas expressas na famosa oração de AA (Alcoólicos Anônimos), atribuída
ao teólogo norte-americano Reinhold Niebuhr, que me limito
reproduzir:
Oração da serenidade
“Concedei-me, Senhor a serenidade
necessária
Para aceitar as coisa que não posso modificar.
Coragem para modificar aquelas que posso e
Sabedoria para conhecer a diferença entre elas.
Vivendo um dia de cada vez
Desfrutando um momento de cada vez
Aceitando que as dificuldades constituem o caminho
à paz
Aceitando, como Ele aceitou
Este mundo tal como é, e não como eu queria que
fosse
Confiando que Ele Acertará tudo
Contanto que eu me entregue à Sua vontade
Para que eu seja razoavelmente feliz nesta vida
E
supremamente Feliz com Ele eternamente na próxima.”
Reinhold Niebuhr
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